quinta-feira, 19 de outubro de 2017


Repousava bem perto um do outro, a matéria e o espírito.
Bem aventurado, pensei eu comigo, aquele em que os afagos de uma tarde serena de primavera no silêncio da solidão produzem o torpor dos membros; porque nessa alma dormem profundamente as dores no meio do ruído da vida!

E este pensamento trouxe-me pouco a pouco á memória as tempestades do passado!
Ai de mim! Logo se me enxugaram as lágrimas, porque eram de consolação, e essa lembrança as estancou!



Por cima da minha cabeça passava o norte agudo.
Eu amo o sopro do vento como o rugido do mar.

Porque o vento e o oceano são as duas únicas expressões sublimes do Verbo de Deus, escritas na face da terra quando ela ainda se chamava o caos.

Depois é que surgiu o homem e a podridão, a árvore e o verme, a bonina e o emurchecer.

E o vento e o mar viram nascer o gênero humano, crescer a selva, florescer a primavera; - e passaram, e sorriram-se.

E Depois viram as gerações reclinadas nos campos do sepulcro, as árvores derribadas nos fundos dos vales, secas e carcomidas, a flores pendidas e murchas pelos raios do sol de estio, - e passaram-se e sorriram-se.

Que tinham eles de feito com essas existências, mais passageiras e incertas que as correntezas de um e que as ondas buliçosas de outro?